Reencontrar Siyabulela Mandela no Web Summit Qatar, em fevereiro de 2025 foi uma grande alegria e uma oportunidade valiosa para dar continuidade a uma conversa que já percorreu diferentes momentos e lugares.
Neste grande evento, em Doha, tive a oportunidade de assisti-lo no Palco da Cúpula do Governo, quando deliberou ao lado Einass Bakhiet, cofundadora do Sudan Climate Collective, sobre o impacto das mudanças climáticas e o papel dos direitos humanos no Sudão e no Curdistão para explorar o futuro do norte da África e da região do Oriente Médio.

Madiba em entrevista na MaturiFest 2023, ao lado de Mórris Litvak, Alexandre Kalache e eu
Conheci Siyabulela no Web Summit Lisboa, em 2022, quando tive o privilégio de conhecê-lo e me conectar com sua trajetória inspiradora. No ano seguinte, em 2023, voltamos a nos encontrar em São Paulo, durante o Maturifest, onde pude entrevistá-lo ao lado de Morris Litvak, fundador da Maturi e Alexandre Kalache, Presidente do ILC-Brasil, International Longevity Center. Agora, em Doha, mais uma vez nos reunimos para discutir temas urgentes e essenciais.
Siyabulela Mandela, ou Madiba, como gostamos de chamá-lo, é um líder visionário que dedica sua vida à luta pelos direitos humanos, resolução de conflitos e desenvolvimento social. Seu trabalho se estende por diversas regiões do mundo, conectando causas e comunidades em busca de uma sociedade mais justa e equitativa.
Siyabulela Mandela, bieneto de Nelson Mandela, dá continuidade ao trabalho de defesa dos direitos humanos e da liberdade realizado por seu bisavô, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1993 e presidente da África do Sul de 1994 a 1999.
DIREITOS FUNDAMENTAIS, RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL, IMIGRAÇÃO E IDADISMO
Nesta entrevista, conversamos sobre desafios globais na defesa dos direitos fundamentais, a responsabilidade individual na promoção de mudanças positivas, os impactos da imigração e o crescimento de discursos extremistas.
Também abordamos o idadismo como uma forma de violação dos direitos humanos, ressaltando a importância da convivência intergeracional e da valorização da experiência dos mais velhos.
Foi uma conversa inspiradora e profunda, que reafirma o compromisso de Madiba com a transformação social e fortalece a nossa missão de construir pontes entre gerações e culturas.
Espero que esta entrevista traga reflexões valiosas e motive ações concretas em prol de um mundo mais justo para todos.

Siyabulela Mandela e eu no Web Summit Qatar 2025
ENTREVISTA COM MADIBA
Silvia Triboni: Olá! Estou aqui com o meu querido amigo Siyabuela Mandela, a quem costumamos chamar carinhosamente de “Madiba”.
Madiba é um líder inspirador que conecta histórias de luta pela igualdade a ações concretas de transformação social. Como consultor internacional em direitos humanos, desenvolvimento e resolução de conflitos, sua atuação se estende por diferentes partes do mundo, incluindo África, Brasil, Portugal, EUA e Canadá.
Madiba, muito obrigada por esta grande oportunidade de conversar com você aqui no Web Summit Qatar 2025.
Para começar, como ativista dos direitos humanos, qual a sua visão sobre os desafios globais atuais na proteção dos direitos fundamentais? E qual é a responsabilidade do indivíduo na condução de mudanças positivas?
Siyabuela Mandela: Antes de mais nada, muito obrigado, minha querida amiga, pela oportunidade de ter esta conversa e por criar esta plataforma de diálogo. Também agradeço aos ouvintes por nos emprestarem seus ouvidos neste momento tão importante.
Os direitos humanos, declarados pelas Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, são a base fundamental dos valores que defendemos como membros da comunidade internacional. Eles representam os pilares da liberdade, da justiça e da paz no mundo. Sem esses direitos, todos os valores que prezamos tornam-se vulneráveis.
Portanto, a responsabilidade pela sua defesa é coletiva e crítica. Sempre que os direitos humanos são ameaçados, devemos nos erguer como uma comunidade global para denunciá-los. Um ataque aos direitos humanos em qualquer lugar é um ataque a todos nós. Se acontece no Sudão, na Ucrânia, na Palestina, no Brasil ou em Portugal, significa que também poderá nos afetar.
O Arcebispo Desmond Tutu dizia que a neutralidade diante da injustiça equivale a tomar o lado do opressor. Assim, não existe neutralidade quando falamos de direitos humanos. Devemos responsabilizar aqueles que cometem injustiças e nos mobilizar para garantir que essas violações sejam enfrentadas. A violência de gangues no Brasil, por exemplo, impacta não apenas as vítimas diretas, mas toda a comunidade global. A falta de moradia digna, seja nas favelas brasileiras ou nas townships sul-africanas, também é uma questão de direitos humanos e exige nossa mobilização.
Silvia Triboni: Ponderações excelentes, Madiba. Gostaria, também, de incluir um ponto essencial: a situação dos imigrantes. Somos todos migrantes em algum momento da história, e atualmente enfrentamos desafios significativos nesse contexto. O que você tem a dizer sobre isso?
Siyabuela Mandela: A questão da imigração tem se tornado cada vez mais central no debate político global, especialmente na Europa.
Muitos países estão endurecendo suas políticas migratórias e fechando fronteiras. Na Alemanha, por exemplo, a Alternativa para a Alemanha (AfD), um dos grupos mais extremistas do país, tem crescido como força política, defendendo abertamente a expulsão de imigrantes. O mesmo ocorre nos EUA, com Trump, e em outras nações onde partidos de extrema-direita ganham força.
A maioria dos imigrantes busca um lugar seguro para viver, fugindo de guerras e perseguições. No entanto, quando chegam a esses países, são rejeitados, enfrentam discriminação ou morrem durante a travessia. Milhares de pessoas do Oriente Médio e da África perdem suas vidas tentando atravessar o mar Mediterrâneo em busca de melhores condições. Este é um problema global e deve ser tratado com empatia e responsabilidade coletiva.
Silvia Triboni: Você tem realizado um trabalho brilhante ao disseminar conhecimento e consciência por todo o mundo. Quero aproveitar esta oportunidade para falar sobre outra violação dos direitos humanos: o idadismo. Eu faço parte da Associação Stop Idadismo, em Portugal, e acredito que o preconceito contra as pessoas mais velhas é uma questão que merece mais atenção. O que você nos diria para fortalecer nosso ativismo contra o idadismo?
Siyabuela Mandela: As pessoas mais velhas são aquelas que percorreram o caminho antes de nós, acumulando experiência e sabedoria que podem nos guiar. Devemos considerá-las como fontes essenciais de conhecimento sobre os erros que devemos evitar e sobre como construir um futuro melhor.
A mudança começa na forma como pensamos e na linguagem que usamos. Precisamos criar espaços de convivência intergeracional em vez de segregar os idosos em instituições isoladas. O diálogo intergeracional é essencial para desconstruir estereótipos e garantir que todas as gerações compartilhem experiências e aprendam umas com as outras.
Silvia Triboni: Para finalizar, que mensagem ou recomendação você gostaria de compartilhar sobre justiça social e os benefícios da harmonia intergeracional?
Siyabuela Mandela: Para a geração mais jovem, cabe a responsabilidade coletiva de construir sobre os alicerces que nos foram deixados pelas gerações anteriores. Só por meio do diálogo intergeracional poderemos compreender o passado e nos preparar melhor para o futuro.
Nossa responsabilidade é continuar evoluindo, garantindo que o mundo se torne um lugar mais justo para as próximas gerações. Ao promovermos esse diálogo, desbloqueamos abordagens inovadoras e fortalecemos os laços que nos unem como humanidade.
Muito obrigado!
Silvia Triboni: Madiba, eu que agradeço imensamente esta conversa inspiradora. Seguimos juntos na luta por um mundo mais justo para todos!
ASSISTA O VÍDEO DE NOSSA CONVERSA!