Em uma cidade que respira história, Lisboa, Portugal, anualmente torna-se o epicentro global da inovação, tecnologia e empreendedorismo na Web Summit 2023.
Para mim, repórter, esta foi uma jornada extraordinária, marcando minha sexta participação consecutiva no corpo de mídia deste evento colossal. Desde a edição de 2018, tive o privilégio de testemunhar o palco mundial sendo ocupado por palestrantes e ativistas de renome, moldando o curso do futuro tecnológico e influenciando as mentes inovadoras que se reúnem anualmente na maior conferência do gênero na Europa.
Neste ano, a Web Summit conhecida por atrair as mentes mais brilhantes do mundo da tecnologia, trouxe à tona debates intensos sobre o papel da Inteligência Artificial (IA) na sociedade contemporânea. Entre as palestras notáveis, três apresentações se destacaram, abordando questões cruciais que permeiam a interseção entre IA, regulamentação e privacidade.
O uso da IA como Pretexto para erosão dos direitos dos trabalhadores
A grandiosa conferência trouxe à tona discussões cruciais sobre o papel da inteligência artificial (IA) na sociedade contemporânea, destacando preocupações significativas relacionadas aos direitos dos trabalhadores. Uma das palestras mais marcantes abordou a questão: “A IA está sendo usada como pretexto para erodir os direitos dos trabalhadores?”
Meredith Whittaker, presidente da Signal e pesquisadora ética em IA, apresentou uma perspectiva crítica sobre o impacto da IA no ambiente de trabalho. Em suas palavras, a IA não está substituindo os trabalhadores, mas sim fornecendo aos empregadores “um pretexto para degradar as condições de trabalho dos que gerenciam esses sistemas de IA”, argumentando que, enquanto políticos e o público em geral são distraídos por promessas tecnológicas reluzentes, a realidade é a degradação das condições de trabalho em escala global.
Ela enfatizou a necessidade de ficar atento a alegações de que a IA é uma tecnologia mágica que substitui trabalhadores, pois isso não se comprovou na prática. Destacou exemplos no cenário da gig economy, como Uber, para ilustrar como a atenção do público e políticos muitas vezes é desviada pelas promessas brilhantes da tecnologia, enquanto, nos bastidores, ocorre a degradação do status de emprego em todo o mundo.
A discussão levantada por Meredith Whittaker destacou a importância de não apenas celebrar as conquistas tecnológicas, mas também de questionar seu impacto social. Disse que a comunidade global precisa considerar como as inovações em IA podem ser implementadas sem comprometer os direitos e condições dos trabalhadores.
A conscientização sobre os desafios éticos e sociais associados ao uso da IA é fundamental para garantir um futuro em que a tecnologia seja uma força positiva, promovendo o bem-estar e a equidade no local de trabalho.
Regulamentação como obstáculo à inovação em IA
Andrew McAfee, cientista pesquisador principal do MIT, apresentou uma visão provocativa sobre a regulamentação da IA. Ele argumentou que se desejamos uma governança mais eficaz da IA, devemos estar preparados para um impacto negativo na inovação.
McAfee mencionou especificamente o EU AI Act, a primeira legislação abrangente de IA no mundo, enfatizando que, embora essa lei reconheça a necessidade de mais governança, ela também resulta em mais gastos, contratação de advogados e engenheiros, e aumento no tempo necessário para implementação.
O pesquisador expressou seu ceticismo em relação a abordagens mais restritivas, propondo a ideia de “inovação sem permissão”.
McAfee questionou se o preço de uma regulamentação mais rigorosa não seria uma limitação do potencial inovador da IA.
Privacidade e Segredos na Era Digital:
Chelsea Manning, ex-analista do exército dos EUA, whistleblower no caso WikiLeaks e hoje consultora de segurança da Nym Technologies, uma tecnológica que ambiciona resolver um dos maiores problemas da Internet, trouxe uma perspectiva única sobre a privacidade na era digital.
“O meu foco atual é podermos ter algum tipo de privacidade através da encriptação e dos meios tecnológicos que temos e podermos usar isso de maneira intuitiva”. “Devia ser tão fácil quanto trancar uma porta ou fechar as cortinas”. Chelsea Manning
Manning argumentou que as ferramentas tecnológicas têm o potencial de ser mais eficientes na proteção da privacidade das pessoas do que os mecanismos legais ou regulatórios, que estão sujeitos a manipulações. Disse que acredita na existência de meios técnicos mais confiáveis para proteger informações sensíveis.
Estas palestras da Web Summit 2023 proporcionaram uma visão abrangente das complexidades e desafios enfrentados pela sociedade na era da IA. Enquanto alguns defendem a necessidade de regulamentação para garantir ética e responsabilidade, outros alertam para os possíveis efeitos colaterais na inovação. A interseção dessas perspectivas moldará o futuro da tecnologia e seu impacto na sociedade.
No total de 806 palestrantes de renome, a Web Summit 2023 não apenas consolidou seu status como a maior conferência de tecnologia, inovação e empreendedorismo na Europa, mas também lançou luz sobre questões cruciais que moldarão nosso futuro.
Neste palco global de ideias, a Web Summit 2023 não apenas refletiu as atuais complexidades e desafios, mas também pavimentou o caminho para o futuro.
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